Carta ao Papai Noel

Sim, sou eu.
É, demorou, mas voltei!
Como é que vai o senhor, querido Papai Noel?
É, eu chamei o senhor de 'querido', está vendo?

Bom, falta uma semana pro Natal, eu imagino a correria que esteja aí e, por isso, vou ser bem camarada com o senhor. Óbvio que uma carta de alguém para o senhor nesta época do ano só pode significar uma coisa: mais um presente pro senhor entregar!

Mas não se afobe, não vou ajudar a lotar sua agenda natalina. Na verdade, eu tenho uma proposta bem camarada pro senhor. E se eu lhe dissesse que pode entregar meu pedido depois? É, isso mesmo que o senhor está lendo! Pode entregar os presentes das outras pessoas no Natal, descansar uns dias e - já recuperado da maratona de chaminés, meias e viagens intercontinentais, o senhor dá uma passadinha rápida e relaxante aqui em Recife para trazer meu presente no dia 28 de dezembro, que tal?

Mas preste atenção ao que eu estou pedindo desta vez, por favor, Papai Noel. Não vá fazer igual ao Natal de 1983. O senhor lembra o que fez naquele ano, não é? Eu pedi aquele boneco "Meu bebê" e o senhor me deu uma Barbie!!! Papai Noel, por favor, não generalize desta vez... Não me dê o que todo mundo quer, me dê o que EU quero. E o que eu quero?

Ah, é simples: o senhor só precisa convencer o pessoal do consulado americano em Recife de que eu sou uma boa pessoa - e o senhor sabe que tenho sido uma boa menina todos estes anos, não é?; sabe que desde '83 eu não lhe pedi mais nada também, não é? Pois então. Diga-lhes que eu mereço ter o visto concedido para visitar Memphis. Diga-lhes e, lembre-se, convença-os!

E, por favor, Papai Noel, não vá errar meu nome e dar meu presente pra outra pessoa, tá? Não é que eu não confie no senhor, mas... Barbie!!! Papai Noel? E eu lá tinha ou tenho cara de quem gosta daquela fresquinha da Barbie?!

Não, não me entenda mal, eu não tenho raiva do senhor não. E o fato do Natal de 83 ter influenciado toda a minha vida a ponto de eu desconfiar de todas as promessas que as pessoas me fazem nos últimos 23 anos pode até ter a ver com o que o senhor fez naquele Natal, mas eu não lhe culpo não. Pelo menos não muito. Vai ver o senhor entregou meu presente para outra pessoa e me deu o de alguma garota, não é? Eu compreendo.

Aliás, eu sou bem compreensiva, uma pessoa muito calma até.

Mas preste atenção desta vez, tá?

Bom Natal pro senhor também!