28 dezembro 2006

A emoção em vários atos

Prelúdio

O dia de hoje começou ontem. A ansiedade e o nervosismo me tomaram de assalto como há tempos não acontecia. A angústia foi tanta que até minha pressão subiu, pulando dos normais 11 x 8 para os absurdos 14 x 9. Não consegui trabalhar. Não fiz nada além de tentar me acalmar para não passar mal.

Não adiantou de muita coisa.

Se o dia foi ruim, a noite foi pior.

Dei um beijo nos sobrinhos (para dar sorte), fui para casa, estava cansada, com um princípio de enxaqueca e um rebuliço na barriga. Fui pro quarto. Queria dormir. Mas não consegui. Durante mais ou menos duas horas, não achei uma posição que me fizesse relaxar. Tentei ouvir música. Li. Contei carneirinhos até. Não houve jeito.

Desiti do quarto e fui pra sala. Liguei a TV em algum canal sem notícias nem documentários nem qualquer coisa que pudesse me chamar a atenção. Ainda reconferi toda a documentação. Será que precisava levar xerox da identidade e do CPF? Eu não tinha feito cópia disso. Levantei. Não, não precisava.

O que eu precisava mesmo era descansar.

Não tinha dado tempo bordar a camisa com o nome de Elvis. Eles disseram que ia dar tempo, mas quando fui lá pediram desculpas e só garantiram para hoje à tarde. Seria isso um mau sinal? Não, eu não podia ficar pensando nessas coisas.

Eu precisava relaxar.

Não sei de que horas consegui tirar meu cochilo, jogada no sofá, com um ventilador soprando na minha cara. Eram 4h45 quando me levantei. Minha entrevista tava marcada para às 7h. Tomei um rápido café da manhã, fui pro computador receber as últimas energias positivas dos amigos - valeu Dea, Elo, V e Dani.

Demorei um pouco embaixo do chuveiro.

Eu ainda precisava relaxar.

Começou a chover por volta das 6h.

Fiquei ainda mais preocupada. Iria tudo congestionar, eu iria chegar atrasada. Será que iam cancelar minha entrevista por causa disso? Depois me lembrei que há uma crença de que chuva em dias importantes de nossa vida é sinal de sorte. Apressei meu pai. Ele ia me deixar lá.

E me deixou. Às 7h em ponto.

Já havia uma fila. Gente que só estava marcado para às 9h já estava lá.

Fui a 17ª.

1º ato

Ainda nervosa, entrego a foto e o formulário para conferirem. Mandam eu entrar e passar pelo detector de metais. A máquina apita e uma policial me pede para abrir os braços enquanto ela passa o detector. Ele apita na altura da minha cintura. É o cinto, ela fala. Quer que eu tire?, perguntei. Não precisa, senhora; ela me diz.

Sigo o caminho indicado pelos três seguranças até chegar à recepção, onde todos os outros solicitantes já esperam.

Uma senhora bem simpática chega por volta das 7h30. Ela tira dúvidas sobre o preenchimento dos formulários e outros procedimentos. Fico torcendo para que ela me atenda e que, principalmente, quem for me entrevistar seja tão simpática quanto ela.

O atendimento dos outros é rápido. Penso em escrever, mas há uma mulher de Salvador que senta ao meu lado e começa a conversar comigo. Achei melhor papear. Ajudou a passar o tempo.

Chega a minha vez.

Dou sorte.

A senhora simpática me atende e mostrou-se extremamente encantada com o fato de eu ter sido específica e dito que ia pra Graceland. Brincou comigo até. E Elvis não morreu, repetiu para mim. Eu, surpresa, emendei dizendo que pra nós fãs ele não morreu mesmo. Recolheu meus documentos (contracheques de 2007, imposto de renda, extrato da poupança, programação da Elvis Week e o ingresso pro 30th anniversary concert) e desejou-me sorte.

Aí eu comecei a relaxar.

Não me pergunte o porquê, eu não saberia explicar.

O sorriso franco dela me acalmou como se o próprio Jesus tivesse me olhado e dito que tudo acabaria bem.

2º ato

Volto para o local de espera. Leio as instruções. Devemos aguardar para colocar nossas digitais do indicador esquerdo e direito. O guarda explica que a convocação dos solicitantes passa, então, a ser aleatória. Explica que o sistema precisa aprovar ou reconhecer (não lembro exatamente o termo) alguma coisa que também não entendi e que, por isso, os números não seguiriam uma ordem.

Acabei dando sorte. De 17ª, pulei para 4ª.

Já foi um americano quem me atendeu. O sotaque carregado foi inconfundível.

O procedimento foi rápido, você encosta o indicador do lado esquerdo primeiro e depois do lado direito. Ele fica olhando um computador e depois libera você para que volte ao local de espera.

Uns cinco minutos depois, os primeiros começaram a ser chamados para a entrevista.

3º e último ato

Ainda conversando com a baiana, vou escutando os chamados pelas pessoas que ainda não colocaram suas digitais e os primeiros entrevistados. Não consigo mais prestar atenção à conversa. Queria ver se já estavam voltando e como estavam voltando.

E, então, me chamaram.

Já? Eu pensei, as pernas bambearam. Seria isso um mau sinal? Será que iam me dar o visto ou negar sumariamente e, em decorrência disso, já tinham me chamado?

Calma, Gil.

It's now or never. Agora é com você.

Mais dois guardas me indicam o caminho.

Fico surpresa e até chocada.

Há dois guichês e nenhuma cadeira pros entrevistados sentarem.

Não havia ninguém sendo entrevistado do lado. Me posicionaram em frente ao último.

Uma moça loira, até simpática, pergunta se sou mesmo Gilvania, com aquele sotaque carregado de americano no Brasil.

Confirmo.

Sorrindo, perguntou-me: Ah, você vai pra Graceland?

Eu abro um sorriso e digo: Se Deus quiser.

Ela olha algo mais no computador e depois no formulário.

O que você faz, Gilvania?

Sou responsável pelo setor de Comunicação de um órgão do governo federal, respondo (nas instruções entregues lá na hora dizem que a gente não pode dizer simplesmente que é funcionário público, porque isso, segundo eles, é muito vago).

E o que essa Comissão Nacional de Energia Nuclear faz? (pronto, pensei, sabia que iam implicar com isso. Já era, eu perdi, tava indo tão bem).

O local onde trabalho aqui em Recife é um centro de pesquisa, na área médica por exemplo.

Ah, ok, visto concedido.Aqui estão as instruções para você vir buscar seu passaporte.

Ai, como deu vontade de pular!!!!

Eu lá em pé, olhando para ela através do vidro, o guarda do meu lado e eu me controlando enquanto recolhia os documentos que ela me devolvia. Eu, completamente ensandecida, tendo que me controlar.

E a voz da mulher se repetindo na minha cabeça:

Ah, ok, visto concedido.
Ah, ok, visto concedido.
Ah, ok, visto concedido.
Ah, ok, visto concedido.

Visto para a realização de um sonho.

4 Comments:

At 28 dezembro, 2006, Blogger Expedito Paz said...

Eu não te disse que ia sair?:)

 
At 28 dezembro, 2006, Blogger Caparica said...

Porra Gil!
Ducaralho!!!!!

Tou feliz por tu!

Já tenho encomenda pra vc chegando por lá:

a) arranca uma folha do gramado da casa dele e bota num saquinho pra mim.
Só toma cuidado na volta pra alfândega num pensar que é maconha! E antes que vc pense, eu não vou fumar isso...

b) chegando la na frente da casa (ou na hora de ir embora, o que é melhor) tu dá um grito pra que até a alma dele escute:

"Tá Otário... Caparica nasceu no mesmo dia que tu!"

 
At 28 dezembro, 2006, Blogger dea said...

aí eu faço igual ao final de Vertigo:

yeah, yeah, yeah, yeah, yeah, yeaaaaaaaahhhh!! ;)

 
At 29 dezembro, 2006, Anonymous Anónimo said...

Aeee eu sabia q a gente ia passear na broadway juntas a cata de alguem filmando no calor do verao novayorkino!!!

 

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