30 outubro 2007

Never ending love

Depois de uma parada rápida na Beale Street para Marluce comprar umas coisas e de dar uma olhadinha no Hard Rock Café, passamos no hotel. Lá, minhas suspeitas foram confirmadas: tinha acabado de menstruar (isso não é legal quando se está viajando, definitivamente, não é). Depois fomos ao shopping. Nilma não comprou no dia anterior o que o filho tinha pedido e teve que voltar lá. Só então fomos para Graceland. Era chegada a hora da tão esperada Candlelight Vigil.

Eu pensava que estivesse preparada para aquela noite, mas descobri que não fazia a menor idéia do tamanho do amor e da devoção que Elvis desperta nas pessoas, mesmo depois (ou apesar de) 30 anos de sua morte.

A Elvis Presley Boulevard, interditada nos dois sentidos e pessoas de todas as idades estavam ali prestando sua homenagem e demonstrando seu sentimento em relação a ele. Não falo nem das crianças, porém havia muita gente com menos de 20 anos, gente na minha faixa etária e muitos idosos. Muitos nem andavam direito, outros já estavam em cadeira de rodas. Contudo, ninguém arredou o pé da fila que se formou logo depois da cerimônia de abertura dos portões da mansão para a vigília.

Na verdade, eles já estavam abertos. A organização explicou que a medida foi tomada por conta do calor e da quantidade de velas acesas. A multidão presente foi estimada em 100 mil pessoas e concentrou-se em frente à entrada. Era lindo de se ver. Todos em silêncio. Primeiro ouvindo a mensagem do fã clube responsável pela cerimônia neste ano, depois o Pai Nosso e, por fim, escutando as músicas de Elvis.

Várias emissoras dos Estados Unidos estavam lá cobrindo a vigília. Não sei como foi essa passagem histórica no Brasil, mas lá eu me sentia abençoada por poder compartilhar esse momento tão especial com gente que viajou de tudo quanto é canto desse mundo de meu Deus para fazer o mesmo que eu: apenas estar ali naquela noite reverenciando o talento, a voz, o carisma de Elvis Presley.

A gente não foi logo para a fila. Atravessamos a rua e fomos para as lojinhas e lanchonetes em frente, onde jantamos um delicioso sorvete de baunilha. Lá acabamos encontrando o pessoal que viajou com o Marcelo Costa, lá de São Paulo, e um outro que dia desses vi em vídeos do youtube. Às 23h pontualmente, eu e Marluce fomos para a fila, já que Nilma disse que aquilo era “coisa de maluco” e preferiu esperar por nós sentada.

A fila já dava sete longas voltas na rente dos muros de Graceland quando entramos o final dela. O interessante é que não havia ninguém organizando e, mesmo assim, não havia um tumulto sequer. Várias caixas de som se espalhavam pela propriedade tocando em baixo tom músicas mais românticas e gospel de Elvis. Acho que isso ajudava a manter todos calmos e serenos durante todo o percurso. A previsão de espera era de quatro horas.

Não acreditamos.

Duas horas depois estávamos lá e vendo a fila aumentar cada vez mais. Eu e Marluce começamos a nos revezar e convencemos Nilma a voltar pro hotel, apesar do medo dela de ir até lá sozinha com Naim. Era isso ou ela passar a noite toda ali sentada esperando por nós. E nós só iríamos sair dali quando passássemos pelo Meditation Garden e rendêssemos nossa homenagem.

A partir dali nem eu nem Marluce quisemos mais sair da fila. As velas para quem estava do lado de fora como nós foram apagadas e de lá a gente via a procissão em silêncio rumando para o túmulo de Elvis. Muitos covers podiam ser vistos na fila. A caráter. Mesmo debaixo daquele calor!!! A equipe da EPE (Elvis Presley Enterprise) distribuía água gelada em vários pontos da fila igual fazem em maratona. Reencontrei Julie e o marido dela, Andy, uma volta atrás da gente (na verdade, eles me viram e fizeram sinal). Eles são da Inglaterra e estavam hospedados no mesmo hotel que a gente. Conheci-os através do Elvis Insiders e ficamos nos correspondendo por e-mail, uma vez que iríamos ficar todos no Residence Inn.

Foi um dos poucos momentos em que abri a boca na vigília.

Às 3h da manhã, já sabia que nossa previsão inicial estava longe de se concretizar. Perto das 5h ganhamos uma vela nova e atravessamos os portões. De um lado e outro havia uma pessoa segurando uma espécie de tocha para que as velas fossem acesas, atrás delas um outro grupo fazia o papel de guardas de honra (termo utilizado para designar aqueles que passam a noite se revezando na recepção dos fãs que entram). Por ordem de Lisa Marie, todas as luzes de Graceland estavam acesas e as janelas, abertas; inclusive aquelas do andar superior.

Na subida par ao túmulo, a emoção tomou conta de mim de uma forma avassaladora. Só ouvi Elvis ao fundo e os soluções das pessoas à medida em que nos aproximávamos do Meditation Garden. Eu nem sei quando as primeiras lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto.

Eu estava lá!

Eu só pensava nisso e em todos os anos em que passei desejando estar ali.

Nada se compara à noite da Candlelight Vigil!

Foram seis horas e dez minutos na fila e, apesar de termos saído de lá exaustas, eu tinha uma tremenda sensação de paz de espírito no peito.

Marluce me confidenciou que se segurou para o coração não pifar (ela sofre de pressão alta). Já eu... bem, carregando a cadeira que comprara, por pouco não voltei para a fila para sentir tudo aquilo de novo. Os olhos vermelhos por conta do choro mal contido. Os pés e as pernas como se não tivessem sentido o efeito da longa fila. Enfim, não dá para escrever. É sentir e guardar na memória, porque do coração eu sei que esta lembrança jamais se apagará.



29 outubro 2007

Ony the strong survive

Naquela quarta-feira, dia 15 de agosto, a gente tinha decidido que, por conta da vigília à noite não iríamos fazer passeios para longe ou que nos deixassem cansadas. Por unanimidade, resolvemos visitar o Sun Studios, na Union Avenue, ao lado da rua do hotel. O homem do Family Dollar nos tinha dito que dava para ir andando, coisa de cinco minutos, mas que era melhor a gente pegar alguma condução para evitar o forte calor. Por eu a gente não seguiu o conselho dele? Até hoje me pergunto.

Quando saímos do hotel já deu para sentir o drama. Levávamos uma garrafa com água gelada cada, boné e tênis confortáveis. Acho que isso, aliado ao amor por Elvis, fez com que a gente seguisse em frente. No começo, estava tudo bem, mas quando os prédios altos desapareceram e a sensação de andar no deserto aumentou, a gente viu que o pior ainda estava por vir: no meio do caminho havia uma subida!!!

A gente tinha feito aquele percurso à noite, na segunda-feira, de carro. Parecera tão rápido. Porém, debaixo daquele sol de 37º, no dia que a Fox News anunciou na TV que Memphis era uma das cinco cidades mais quentes dos Estados Unidos, a gente simplesmente penou. A grande dificuldade era respirar. Coisa básica para um ser humano. Daí, começamos a parar de instante em instante tanto para puxar o ar para os pulmões como para esperar por quem tivesse ficado para trás e isso quase sempre significava dizer que era a Nilma.

Eu só senti mesmo o efeito do calor e da umidade quase zero quando entramos na Sun Records. O alívio que o ar condicionado gerou acabou me dando um certo mal estar. Além disso, o lugar estava entupido e, por ser bem pequeno, fiquei me sentindo um pouco zonza. Respirei fundo algumas vezes enquanto olhava os quadros e as fotos expostas na parede para ver se “esquecia” do desconforto. A essa altura a água já tinha acabado e apelei para o que pensei ser uma miragem: a extinta em solo brasileiro CRUSH. Um santo banco desocupou logo à minha frente e me sentei. Sem pressa, bebemos o refrigerante e ao final nos sentimos gente de novo.

Refeitas, compramos o ingressos para conhecer o estúdio (U$10). A nossa excursão só começaria às 13h40 e ficamos conversando com um casal de Ohio durante aquelas duas horas de espera. Eles nos deram uma dica boa: ir no Peabody Hotel no dia seguinte para conferir uma exposição de coisas raras de Elvis. Ele se interessou muito pelas fotos e foi mais por isso que nos recomendou ir lá. A mim o foco mesmo eram os CDs e os DVDs de Change of Habit e Follow that Dream que eu TINHA que encontrar.

Chegada a hora do passeio (um grupo acabou cancelando e nós entramos 45 minutos antes), eu confesso que esperava mais do local. Tem quase nada para ver, vale mais pela importância histórica musical. Ao final é que a guia informa: tudo está igual aos áureos tempos no qual Sam Philipps lançou nomes como Elvis e Johnny Cash. A única alteração, conta ela, foi um ar condicionado que tinha instalado uma semana antes. Apesar de ser apenas a recepção no térreo, uma sala no primeiro andar com fotos e objetos dos cantores e do estúdio propriamente dito, você realmetne faz uma viagem no tempo e imagina como deve ter sido aquela gravação que catapultou Elvis para o mundo, ou seja, para nós.

Para voltar ao hotel, eu descobri que o estúdio oferecia transporte gratuito tanto para o Rock’n’Soul Museum (ao lado do Fedex Fórum) quanto para Graceland. O danado é que a gente teve que esperar uns 10... 20 minutos no sol pela van – mas foi bem melhor que voltar andando. E eu quase perdi a condução porque a cover loira burra de Marylin Monroe não sabia se entrava ou se saía. Minha tese é que ela não queria ir em um lugar apertado e o marido, amante ou seja lá o que o cara que tava com ela era não cedeu o assento dele para ela. Nessa confusão, eu acabei ficando de cócoras. Achei melhor embarcar uma vez que o trecho de carro é muito curto. Ele ainda me ofereceu o dele e a Marylin falsiê não gostou muito disso (fazer o que se meus cachinhos naturais fizeram sucesso em Memphis?). Eu, gentilmente, agradeci mas recusei a oferta.